terça-feira, 5 de maio de 2009

Grande Punto - Relato nº 02



Não é à toa que assim o é conhecido na Europa.


Ontem, não se tratava de Gran Turismo, Top Gear, Test Drive, Daytona ou Velozes e Furiosos. Nem tampouco Need For Speed Underground, Carbon ou Undercover.


Era um Fiat Punto ELX 1.4, a 110km/h, aproximadamente às 22:15 numa BR mal sinalizada, mal frequentada, craterada e, agora, conhecida por seus invasores inesperados.

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Já me disseram que sou um cara afoito no trânsito. E reconheço.


Não que eu me gabe de tal proeza. Sei que a impaciência no trânsito (principalmente a minha, inerente) é uma potencial caracterizadora de acidentes, muito embora jamais tenha causado qualquer dano mais grave a mim, ao veículo que eu esteja guiando ou a alguém.


Mas ontem, ainda que numa fração de segundo, senti que “agora ia”. Não era para menos.


Não é todo dia que se vem à velocidade acima mencionada e, mesmo com os faróis ao alto, não se vê um semovente de quatro patas vagando a passos de tartaruga na sua mesma direção. A imagem da traseira magra e do rabo peludo se aproximando demasiadamente rápido aos olhos ainda é bem real.


Os gritos pelo meu nome feitos por um primo e uma pegada firme deste no meu braço direito demonstravam a grandiosidade e o medo daquele momento quase sem raciocínio. Quase tão irracional quanto o ser que ali vagava na estrada.


Num ímpeto, com as duas mãos ao volante por assim já estar (graças ao excelente design do veículo ali), joguei as rodas esquerdas ao acostamento e, auxiliado por uma suspensão que me permitia andar rápido (e bem) mesmo desnivelado (a banqueta era mais baixa que a pista), ultrapassei o animal que continuava a vagar na estrada como se nada acontecesse naquele momento.


Após o retorno do carro inteiro à faixa, o ponteiro do velocímetro descia ao passo da minha adrenalina.


Enquanto o Ultraje tocava seu acústico nos alto-falantes, eu apertava o volante com força, numa mistura de prazer e gratidão. Ao Punto.


Talvez com o velho Palio eu não tivesse o mesmo destino. Talvez, com sorte, ferido, eu estivesse agora rebocando-o na chuva e odiando aquele invasor morto estirado na pista.


Mas, graças ao Grande, minha mãe agora dorme. Logo mais trabalharei e irei à faculdade novamente. Como sempre. E dessa vez mais comedido (creio eu).



Que carro.